Quantos frascos de produtos você tem na sua bancada agora? E quantos deles você realmente precisa? Durante anos, o mercado fez profissionais acreditarem que cabelos saudáveis exigem um arsenal de produtos. Um para hidratação, outro para nutrição, um terceiro para reconstrução – sem falar nos finalizadores, boosters e ampolas semanais. Mas essa segmentação faz sentido ou foi apenas uma estratégia para vender mais?
Se a ciência já provou que a saúde capilar é um processo integrado e dinâmico, por que continuamos seguindo um cronograma capilar engessado? A verdade é que a indústria não fragmentou os tratamentos para melhorar os resultados – ela fez isso para aumentar o consumo.
O marketing criou um problema que nunca existiu:
Nos anos 90, quando surgiram os primeiros estudos sobre hidratação, nutrição e reconstrução, a intenção era apenas classificar diferentes aspectos do cuidado capilar. Mas as grandes marcas enxergaram nisso uma oportunidade: separar esses tratamentos em kits diferentes e vender a ideia de que cada cabelo precisa de todos eles.
O problema é que essa abordagem não se sustenta cientificamente. Pesquisas da International Journal of Trichology mostram que a maioria dos problemas capilares começa no couro cabeludo, não na fibra. Ainda assim, o mercado continua lançando produtos focados apenas no fio, tratando os efeitos e ignorando a causa real do problema.
Outro estudo da Journal of Cosmetic Science revelou que os tratamentos mais eficazes equilibram hidratação, nutrição e reconstrução simultaneamente. Ou seja, a fibra capilar não separa esses processos em etapas distintas. Se um fio precisa de reparação, ele também precisa de nutrição. Se um couro cabeludo está desidratado, a retenção de nutrientes será prejudicada. O que a indústria vende como cuidados separados, na verdade, são necessidades interligadas.
Mas a fragmentação gera mais frascos – e frascos significam mais vendas.
O preço invisível do consumo excessivo
Esse excesso não impacta apenas o bolso do consumidor. O mercado da beleza é um dos maiores geradores de resíduos no mundo.
📌 120 bilhões de embalagens de cosméticos são produzidas anualmente, e menos de 10% são recicladas (Ellen MacArthur Foundation).
📌 Produtos vencidos e subutilizados são descartados antes mesmo de acabarem.
📌 O excesso de fórmulas diluídas obriga o consumidor a usar mais quantidade para obter efeito, gerando mais descarte e mais poluição.
A grande contradição? Muitas marcas se vendem como "sustentáveis", mas continuam lançando linhas intermináveis. Sustentabilidade não é criar mais produtos recicláveis. Sustentabilidade é reduzir o consumo desnecessário.
Sustentabilidade real: Menos é mais
O conceito de "menos é mais" não é apenas uma mudança de discurso – é uma revolução na forma de consumir beleza.
✔ Menos produtos = menos embalagens:
Menos plástico, menos papel, menos lixo.
✔ Fórmulas multifuncionais = menos desperdício
Produtos com ativos potentes eliminam a necessidade de várias etapas.
✔ Menos consumo = menos poluição
Reduz a demanda industrial e o impacto ambiental.
✔ Menos química = menos resíduos nos oceanos
Produtos em excesso sobrecarregam o meio ambiente com ingredientes que nem sempre são biodegradáveis.
Se um profissional precisa recomendar cinco produtos diferentes para um único cabelo, alguma coisa está errada. O verdadeiro especialista não vende mais frascos – ele vende resultados. O mercado pode continuar lançando kits. Mas os profissionais que realmente se destacam entendem que menos é mais.
2 comentários
Ellem da silva costa
Ótimo arquivo, amei.
gilkaerosantos@gmail.com
Excelente artigo. Como tricologista e terapeuta capilar do cabelo africano acredito que a impregnação de cosméticos,além de não ser saudável para o cabeludo é uma das causas das quedas nas texturas crespas.
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